RESENHA: A INOVAÇÃO EDUCATIVA HOJE
CARBONELL, Jaume. A aventura de Inovar: A mudança na Escola. São Paulo: Artmed, 2002. 120 p.
Por Leonor dos Santos Rodrigues
O primeiro capítulo “A inovação
educativa hoje” do livro Aventura de Inovar enfoca a necessidade de inovação na
escola, delineando os fatores que impulsionam e que dificultam o processo.
A forma de
discorrer sobre a inovação educativa
num paralelo entre o passado, a necessidade do presente e a incerteza do futuro
mostra um paradoxo com o conceito atual
de modernização nas escolas.
O texto de
Carbonell inicia-se com uma crítica sobre a capacidade de sobrevivência da
escola, apesar da crise em que sempre esteve no cumprimento contraditório do
seu papel de controle da desigualdade social da cultura.
Embora não negue a existência de
algumas mudanças na instituição escolar, o autor insiste na necessidade de um
novo modelo formativo onde os seres humanos possam receber uma aprendizagem
sólida, uma educação integral que o prepare para enfrentar criticamente o
futuro incerto de produção acelerada do conhecimento e de mudanças
imprevisíveis, isto tudo, com a escola sofrendo forte imposição do
neoliberalismo onde a economia sobrepõe á cultura e a política. Mesmo
considerando o poder do neoliberalismo o autor se reveste de esperança e afirma
a possibilidade de experiências múltiplas e ricas iniciativas dos professores
que escapam ao controle neoliberal. Não esquecendo que a escola é um espaço de
confronto e de resistência em que é possível prosperar projetos inovadores.
Carbonell se mostra insatisfeito quando se refere à mudança ocorrida na
escola, pois a caracteriza como epidérmica, muda o formato, a paisagem escolar,
mas não modifica as concepções sobre o ensino e a aprendizagem. A tecnologia
cumpre a mesma função dos livros, mesmo durante as insistências históricas das
pedagogias inovadoras como os quatro pilares de educação definido pela UNESCO.
Antes de listar um quadro com trezes
elementos que compõe o processo de inovação educativa, o autor se preocupa em conceituar inovação como um processo de
mudanças nas escolas e reforma como mudança na estrutura do sistema educativo
em seu conjunto. Ratifica a sua insatisfação sobre o conceito de inovação
atual, derrubando a idéia de que nem sempre a reforma é sinal de mudança ou
melhoria e pode até atrapalhar, pois além de ser parcial, é de caráter apenas
estrutural, lideradas e executadas por pessoas com visão do passado e as novas
idéias demoram tanto chegar às escolas que quando isso acontece já se tornaram
antigas.
É interessante a crítica tecida
neste texto sobre a superficialidade da inovação, “centra mais no processo que no produto, mais no caminho que no ponto
de chegada”.
Para o autor a mudança não é tão fácil, precisa ser abordada de forma sistêmica,
inteirando diversas ações coordenadas e complementares que afetam toda
instituição escolar, além de saber lidar com culturas, visões e interesses
distintos dentro da equipe. Sem a colaboração de todos os agentes não há
possibilidade de construir um projeto global e coerente de mudança na escola,
mudanças essas que devem ocorrer continuamente, descobrindo sempre novas rotas.
Ainda deve se levar em consideração a fase de turbulência e de descanso, de
avanços e de recuo. Requer tempo e
persistência para modificar práticas e atitudes incrustadas num processo
ideológico e cultural.
O paradoxo da mudança é
constantemente enfatizado neste texto, salientando que apesar do consenso de que as mudanças requerem tempo, na prática exige
resposta de impacto que atende apenas ao imediato, com reformas verticais,
concebidas de cima para baixo, onde uns planejam e outros executam
mecanicamente. A situação se agrava com as dificuldades de estabelecer
critérios de valoração e avaliação sobre o êxito, o fracasso, avanços e
retrocessos.
Carbonell acredita que se as
inovações forem planejadas a partir do coletivo tem mais possibilidades de
êxitos continuado, porém não descarta, de às vezes, ocorrer necessidades de
estímulos externos para despertar a equipe adormecida na rotina. As inovações têm de ser pensadas, geridas e
realizadas autonomamente pelos professores e os espaços formativos são seus
grandes aliados onde se produzem o maior grau de inovação.
Porém, para impulsionar a inovação é
importante que a administração seja mais sensível ao reconhecimento e apoio das
experiências de base e criem um clima mais favorável para a liberdade de ação
docente e renovação pedagógica, uma vez que a principal força impulsora de
mudança são os trabalhos dos professores de forma coordenada e cooperativa nas
escolas.
No seu intercâmbio entre a crítica e propostas o autor assinala vários
fatores básicos para promover a inovação e vale apenas citar pelo ao menos
algumas delas: equipe receptiva e cúmplice que compartilha idéias e projetos;
que coopera com outros professores e escolas formando uma rede de intercâmbio;
clima de bem estar e confiança; inovações e mudanças como fazer parte da vida
da escola; conquista de tempo e espaço para vencer os efeitos internos e
externos das exigências administrativas e burocráticas; acompanhamento,
valoração e avaliação dos resultados.
O autor insiste em alertar o leitor
por todos os lados sobre o processo de inovação, agora citando os elementos que podem dificultá-la. Vejam
alguns: debilidade no relacionamento interpessoal, ausência de compromissos
firmes, falta de planejamento e coordenação, as condições de sua
aplicabilidade, disponibilidade de envolvimento dos professores e seus saberes,
resistência às mudanças, centralização excessiva, individualismo e duplo
currículo.
Contrário ao que a maioria pensa coloca o conflito como um elemento
imprescindível ao processo e extraordinariamente produtivo porque dá vida à
inovação e faz com que apareçam as divergências. Ao se confrontar
complementa-se e enriquece em benefícios da inovação. Essa, cheia de contradições é a
oscilação entre o caráter reprodutor do Estado com seu poder e o potencial
libertador da escola.
Com sua maneira simples e clara de
expressar o autor consegue levar seus leitores à reflexão da necessidade de uma
real inovação no processo educativo, sem panacéias e ilustrações, apontando
críticas e vários caminhos possíveis, mesmo dentro das contradições do
contexto.