quinta-feira, 21 de julho de 2011

RESENHA - CURSO OPE


RESENHA: A INOVAÇÃO EDUCATIVA HOJE

CARBONELL, Jaume. A aventura de Inovar: A mudança na Escola. São Paulo: Artmed, 2002. 120 p.
Por Leonor dos Santos Rodrigues

O primeiro capítulo “A inovação educativa hoje” do livro Aventura de Inovar enfoca a necessidade de inovação na escola, delineando os fatores que impulsionam e que dificultam o processo.
            A forma de discorrer sobre a inovação educativa num paralelo entre o passado, a necessidade do presente e a incerteza do futuro mostra um paradoxo com o conceito atual de modernização nas escolas.
            O texto de Carbonell inicia-se com uma crítica sobre a capacidade de sobrevivência da escola, apesar da crise em que sempre esteve no cumprimento contraditório do seu papel de controle da desigualdade social da cultura.
Embora não negue a existência de algumas mudanças na instituição escolar, o autor insiste na necessidade de um novo modelo formativo onde os seres humanos possam receber uma aprendizagem sólida, uma educação integral que o prepare para enfrentar criticamente o futuro incerto de produção acelerada do conhecimento e de mudanças imprevisíveis, isto tudo, com a escola sofrendo forte imposição do neoliberalismo onde a economia sobrepõe á cultura e a política. Mesmo considerando o poder do neoliberalismo o autor se reveste de esperança e afirma a possibilidade de experiências múltiplas e ricas iniciativas dos professores que escapam ao controle neoliberal. Não esquecendo que a escola é um espaço de confronto e de resistência em que é possível prosperar projetos inovadores.
Carbonell se mostra insatisfeito quando se refere à mudança ocorrida na escola, pois a caracteriza como epidérmica, muda o formato, a paisagem escolar, mas não modifica as concepções sobre o ensino e a aprendizagem. A tecnologia cumpre a mesma função dos livros, mesmo durante as insistências históricas das pedagogias inovadoras como os quatro pilares de educação definido pela UNESCO.
Antes de listar um quadro com trezes elementos que compõe o processo de inovação educativa, o autor se preocupa em conceituar inovação como um processo de mudanças nas escolas e reforma como mudança na estrutura do sistema educativo em seu conjunto. Ratifica a sua insatisfação sobre o conceito de inovação atual, derrubando a idéia de que nem sempre a reforma é sinal de mudança ou melhoria e pode até atrapalhar, pois além de ser parcial, é de caráter apenas estrutural, lideradas e executadas por pessoas com visão do passado e as novas idéias demoram tanto chegar às escolas que quando isso acontece já se tornaram antigas.
É interessante a crítica tecida neste texto sobre a superficialidade da inovação, “centra mais no processo que no produto, mais no caminho que no ponto de chegada”.
Para o autor a mudança não é tão fácil, precisa ser abordada de forma sistêmica, inteirando diversas ações coordenadas e complementares que afetam toda instituição escolar, além de saber lidar com culturas, visões e interesses distintos dentro da equipe. Sem a colaboração de todos os agentes não há possibilidade de construir um projeto global e coerente de mudança na escola, mudanças essas que devem ocorrer continuamente, descobrindo sempre novas rotas. Ainda deve se levar em consideração a fase de turbulência e de descanso, de avanços e de recuo. Requer tempo e persistência para modificar práticas e atitudes incrustadas num processo ideológico e cultural.
O paradoxo da mudança é constantemente enfatizado neste texto, salientando que apesar do consenso de que as mudanças requerem tempo, na prática exige resposta de impacto que atende apenas ao imediato, com reformas verticais, concebidas de cima para baixo, onde uns planejam e outros executam mecanicamente. A situação se agrava com as dificuldades de estabelecer critérios de valoração e avaliação sobre o êxito, o fracasso, avanços e retrocessos.
Carbonell acredita que se as inovações forem planejadas a partir do coletivo tem mais possibilidades de êxitos continuado, porém não descarta, de às vezes, ocorrer necessidades de estímulos externos para despertar a equipe adormecida na rotina. As inovações têm de ser pensadas, geridas e realizadas autonomamente pelos professores e os espaços formativos são seus grandes aliados onde se produzem o maior grau de inovação.
Porém, para impulsionar a inovação é importante que a administração seja mais sensível ao reconhecimento e apoio das experiências de base e criem um clima mais favorável para a liberdade de ação docente e renovação pedagógica, uma vez que a principal força impulsora de mudança são os trabalhos dos professores de forma coordenada e cooperativa nas escolas.
No seu intercâmbio entre a crítica e propostas o autor assinala vários fatores básicos para promover a inovação e vale apenas citar pelo ao menos algumas delas: equipe receptiva e cúmplice que compartilha idéias e projetos; que coopera com outros professores e escolas formando uma rede de intercâmbio; clima de bem estar e confiança; inovações e mudanças como fazer parte da vida da escola; conquista de tempo e espaço para vencer os efeitos internos e externos das exigências administrativas e burocráticas; acompanhamento, valoração e avaliação dos resultados.
O autor insiste em alertar o leitor por todos os lados sobre o processo de inovação, agora citando os elementos que podem dificultá-la. Vejam alguns: debilidade no relacionamento interpessoal, ausência de compromissos firmes, falta de planejamento e coordenação, as condições de sua aplicabilidade, disponibilidade de envolvimento dos professores e seus saberes, resistência às mudanças, centralização excessiva, individualismo e duplo currículo.
Contrário ao que a maioria pensa coloca o conflito como um elemento imprescindível ao processo e extraordinariamente produtivo porque dá vida à inovação e faz com que apareçam as divergências. Ao se confrontar complementa-se e enriquece em benefícios da inovação. Essa, cheia de contradições é a oscilação entre o caráter reprodutor do Estado com seu poder e o potencial libertador da escola.
Com sua maneira simples e clara de expressar o autor consegue levar seus leitores à reflexão da necessidade de uma real inovação no processo educativo, sem panacéias e ilustrações, apontando críticas e vários caminhos possíveis, mesmo dentro das contradições do contexto.